sábado, 6 de março de 2010

Capítulo 2, parte 4: Festim dos Corvos: Três vezes morte

Ao ouvir as palavras do estranho homem, sinto um frio em minha espinha. 
- C-como assim? Quer dizer que eu ainda verei o cavaleiro mais duas vezes? - pergunto. Kathryn parece bem confusa, mas fica calada, olhando para nós dois, com a mão no cabo da espada.

- Não. A morte aparece de maneiras diversas para nós. Em breve a ave agourenta e o grito que anuncia o fim lhe cruzarão o caminho. Lembre-se de minhas palavras. uma pedra branca no caminho e a dor de uma mulher poderão lhe salvar da morte, contudo... - diz ele, sem completar a última frase.

- Contudo o quê? Quem é você, afinal? - pergunto, já um pouco irritado e curioso ao mesmo tempo.

Então o estranho druida responde:

- Eu sou apenas um mensageiro. Um homem que recebe as palavras do futuro pelas chamas de minha fogueira. Minha última visão só posso lhe contar na hora certa. Dizer-te agora só vai trazer apreensão e no momento de acontecer terá esquecido. Mas te aviso: tome cuidado com aquele que voa nas sombras e alimenta-se dos mortos. Muitos olhos os observam agora.

Confuso com tais palavras, vejo que Kathryn está como eu, então ela se adianta e pergunta ao druida desconhecido:

- E quanto a mim? Algum aviso?

- Aquele a quem procuras voltará, e será o momento da despedida.

Nesse momento um vento forte apaga as chamas da fogueira. Ao olhar novamente para o local onde o druida estava, vemos o local vazio. Estranho. 

Calado, tento reacender a fogueira e tenho sucesso. Tanto Kathryn quanto eu passamos a noite calados, pensando nas palavras proféticas do estranho homem.




domingo, 28 de fevereiro de 2010

Capítulo 2, Parte 3: Festim dos Corvos: Previsão


Cinco dias já se passaram desde que segui viagem com Kathryn. Na maior parte do tempo passamos calados, mas quando havia conversa nos mantivemos em assuntos do presente, como que caminho seguir, o que iríamos comer mais tarde ou aonde iríamos dormir. Era estranho.

Embora já tivesse notado que Kathryn fosse uma boa pessoa, ela era uma mulher muito fechada. Normal, creio eu. Não é fácil se abrir para um estranho, mesmo depois de aceitar viajar com ele sem destino.

Em certo momento da viagem, poucos minutos antes de anoitecer, resolvemos parar para comer e descansar. Enquanto há luz preparamos uma fogueira e começamos a assar o resto de carne que a moça trouxe de casa. Comento:

- Acho melhor caçar algum animal amanhã. Um coelho ou outro bicho do tipo.

- Tudo bem, o arco que eu trouxe ainda está em ótimas condições e com um bom número de flechas.

Olho para a aljava e comento:

- Dez, pelo que vejo. Vai servir bem. E acho que você vai se virar bem melhor que eu com esse arco. Nunca treinei com um, só com a espada.

Antes que nossa conversa continue, ouço uns sussurros estranhos, trazidos pelo vento. Intrigado, rapidamente olho para trás e vejo um estranho homem barbado, vestido com farrapos e pele de lobo, empunhando um cajado de madeira. Sério, ele diz:

- Você viu a morte ontem. E ela se manifestará mais duas vezes na sua frente em breve.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Capítulo 2, Parte 2: Festim dos Corvos: Kathryn


Ao abrir meus olhos, percebo que estou deitado em uma cama. Ainda estou na casa em que fomos atacados por Dullahan.

“Espere um pouco... eu não lembro de ter desmaiado na cama.” – penso. Lentamente me levanto e olho nos arredores. A cama deveria estar bem suja com o sangue de Myles, mas parece ter sido limpa antes que me deitassem nela. Então também vejo que Myles não está na casa e a porta está aberta.

Vou até lá fora e vejo uma bela moça, de cabelos ruivos e olhos verdes, terminando de enterrar alguém, que suspeito ser Myles. Pela luz do dia creio que estejamos no meio da tarde.

Antes que me veja, falo para a moça:

- Vejo que a casa é sua.

A moça se assusta. Ao me ver, ela volta a enterrar, falando:

- Quando eu voltava para cá ouvi o relinchar louco de um cavalo e vi um cavaleiro fugir desembestado da casa. Assim que entrei, te vi caído no chão e o rapaz morto, coberto de sangue. Logo vi que foi um ataque. Só não sei como não se machucou. Foi você quem fez isso?

Ela me interrogava, mas parecia não ter medo, mesmo se eu fosse um louco sedento por sangue e sexo. Para viver sozinha neste lugar, deve saber se defender bem. Ainda mais com a minha espada, que agora noto estar em sua posse, com a bainha presa em sua cintura, sem falar da pá em sua mão.

- O rapaz que você sepulta era um pobre coitado, vítima do emissário da morte. Escapei com muita sorte, mas foi uma sensação que não desejo a ninguém. Bem, talvez a alguns inimigos. – respondo.

- Você não parece mentir, mas acho que não contou tudo. Quem era aquele cavaleiro? Ele era estranho. Sugiro que saia antes dele voltar.

- Se eu lhe dissesse quem ele era, não acreditaria. Nem eu mesmo acredito direito. Mas não se preocupe, eu vou deixar sua casa. Só entrei aqui por estar desesperado, mas o perigo já passou.

- E para onde vai, viajante?

- Londres.

- Negócios a resolver?

- Vida nova a trilhar. Na verdade busco uma nova razão de viver. A minha já se foi.

- É uma pena, mas eu sei como é. Meu marido um dia simplesmente sumiu e me deixou aqui. Depois de chorar por ele por não sei quantos dias, achei melhor dar continuidade.

- Mas não é agonizante ficar todos os dias aqui sem contato com outras pessoas? Sem falar do perigo de bandidos e outras criaturas da noite.

- Eu sei me virar. Se não soubesse já teria ficado louca ou morrido.

As palavras da moça são frias, endurecidas. Tenho pena dessa vida que ela leva.

- Meu nome é Ryan McDnovan. Qual o seu nome?

- Kathryn.

- Hum... como eu disse, eu estou indo a Londres atrás de uma nova vida. Gostaria de ir atrás de uma nova para você também?

- Nem nos conhecemos, Ryan. Como eu posso confiar em você?

- Não disse que sabia se virar? Além do mais está com a minha espada.

- Tem razão. Se continuar aqui morrerei seca e louca.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Capítulo 2, Parte 1: Festim dos Corvos: Sonho


Estranho. Como cheguei neste descampado? Que me lembre estava na floresta... Dullahan! Mas espere... onde ele está?

Realmente é estranho. De uma hora para outra me vejo em um campo, ainda à noite. A lua cheia está linda, mas que me recorde a lua não era cheia, e sim crescente.

Confuso, sigo por este campo, curioso sobre como cheguei até aqui. Será que morri e o outro mundo é assim? - pensei. Ao longe ouço os corvos crocitando. De repente uma pessoa vai surgindo, muitos pés à frente. Não consigo ver seus detalhes, mas parece ser uma mulher.

Eu corro até ela e me deparo com uma cena assustadora: dezenas, centenas de corpos caídos no campo, com os corvos lhes devorando o que lhes sobra de carne. São incontáveis aves e a mulher está parada no meio assistindo ao banquete macabro. Os cadáveres são de pessoas de diversas idades, homens, mulheres, velhos e crianças. Há animais também, desde cães e gatos até vacas e cervos. Sinto vontade de vomitar.

Me afasto um pouco, viro o olhar e percebo que, aos meus pés, há um corvo me observando. Em seguida outros se aproximam, andando em minha direção. Logo vários me cercam. Em vão, saco minha espada e tento atacar para espantá-los, afastando alguns que saem em revoada. Então a estranha mulher, ainda encoberta pela escuridão, aproxima-se e diz:

- Nunca saque sua espada para um emissário da morte, mortal.

Então os corvos ali presentes alçam vôo e avançam sobre mim. Antes que me acertem com seus bicos, eu acordo.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Cap. 1, parte 6: O Cavaleiro da Morte: a Moeda de Ouro


Ao ouvir o cavalo de aproximar da casa, me levantei e fiquei em posição de luta, com a espada sacada, preparada para atacar o cavaleiro. Tudo estava acontecendo rápido demais e mal podia acreditar que estava diante de uma lenda tão profana!

Torcendo para que Dullahan não conseguisse arrombar a entrada, minha esperança praticamente se foi ao ver a porta se abrir com facilidade, como se esta se recusasse a opor-se ao cavaleiro morto-vivo.

"O que diabos ele fez?" - pensei.

De espada sacada, o algoz do outro mundo entrou na casa ainda montado em seu cavalo (ela tinha um telhado mais alto do que eu gostaria) e, no relinchar ameaçador do animal, cai para trás, de susto. Já de frente para ele pude notar mais os detalhes macabros de Dullahan. Seu corpo não tinha cabeça. Esta estava em sua mão direita, com uma pele estranha, que parecia queijo velho, com os olhos pequenos e negros e um sorriso macabro em seu rosto, indo quase de orelha a orelha. Zumbidos de moscas eram ouvidos por mim e pareciam vir da cabeça, a menos de um metro.

Lembrando que se ele falasse meu nome minha morte estaria confirmada, peguei o cobertor que estava sobre Myles e joguei no monstro. Diante de minha investida, ele recuou e sua cabeça quase vai ao chão. Enfurecido, Dullahan fez seu cavalo dar uma leve empinada para me atacar com os cascos, me fazendo derrubar a espada na cama.

Jamais me imaginei numa situação como esta. Horas atrás pensava em morrer e agora e lutava pela minha vida. Paradoxal no mínimo. Então a sorte me sorriu.

Quando eu joguei o cobertor contra o cavaleiro sem cabeça, o saco de moedas caiu no chão se abriu-se, espalhando o dinheiro no assoalho. Meu inimigo, ao notar isso, subitamente ficou nervoso e recuou seu cavalo, com um medo quase sobrenatural. Então me lembrei: o cavaleiro sem cabeça tem medo de ouro!

- Então é verdade que o grande cavaleiro Dullahan teme o ouro! - provoquei. Meu saco de moedas tinha algumas moedas de ouro, dentre as de cobre. Peguei uma delas e a apontei para o morto-vivo, que se afastou mais ainda e logo bateu em retirada.

Ao vê-lo bater em retirada, respirei aliviado e desmaiei em seguida, no chão da casa.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Cap. 1, parte 5: O Cavaleiro da Morte: A Face da Morte


Aguardando a noite terminar, adormeci novamente. Já nem ligava se o dono da casa ira aparecer hoje. Melhor ele do que o tal cavaleiro. Contudo, meu sono não durou muito.

Sons do trotar do cavalo. Myles gemia na cama, mas ainda dormia. Parecia estar tendo alucinações. Seu ferimento era grave e já perdera muito sangue. A morte estava próxima. No fim era um pobre coitado e por isso acredito tê-lo ajudado. Um mínimo de dignidade antes da morte para alguém desesperado e que vira o terror horas atrás.

Abri a janela devagar e apenas o bastante para tentar ver o tal cavaleiro. a luz da lua me permitia ver um vulto montado em um cavalo se aproximando. Ao vê-lo chegar, pude distinguir melhor suas formas e um calafrio subiu a espinha.

Acima dos ombros não havia nada! Como pode? Então Myles falava a verdade. Na mão direita, o cavaleiro segurava algo que parecia ser uma cabeça. E então ele gritou:

- MYLES!! MYLES!!!

Ele parou diante da casa e em seguida Myles deu seu último suspiro. Em suas últimas palavras o pobre ladrão sussurrou:

- Pai... mãe... eu sinto muito.

Myles morrera e agora deve descansar em paz. Pelas poucas horas de convívio com ele notei que não era uma má pessoa. Poderia ter me enganado, é claro. Mas duvido que o infeliz tenha entrado nessa vida por vocação e sonho de infância. Fui até o corpo do rapaz para deixá-lo numa posição mais confortável e notei que minhas moedas estavam com ele.

- Que sorte! - imaginei.

Porém o trotar do cavalo recomeçou. E vinha na direção da casa.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Cap. 1, parte 4: O Cavaleiro da Morte: A Cabana


- O que quer dizer com... Dullahan? Está dizendo que é ele que está matando vocês?- perguntei, incrédulo.

- Sim! Você tem que acreditar em mim!

Sem esperar a minha reação, o ladrão saiu correndo pela estrada, ainda cambaleante.A luz da lua por entre as árvores só era o bastante para não ficarmos no breu total. Com dificuldade, seguimos juntos pela estrada, sempre atentos ao som de cavalos ao longe. No caminho, improvisei uma atadura com farrapos para estancar o sangue no braço do homem. Myles é seu nome, segundo ele.

Apesar de tentar ajudá-lo nessa fuga, ainda tinha muita dúvida se era delírio, mentira ou apenas o medo os confundiu. A escuridão da noite pode pregar diversas peças. "Será que é mesmo verdade?" - pensei. Após um bom tempo de caminhada, eu já estava tendo que carregar o homem nas costas, mesmo que ficasse completamente sujo com o sangue que lhe cobria o corpo. Felizmente a sorte parece nos sorrir.

- Uma cabana! - avisei ao já semi-consciente Myles.

Seguimos até lá e bati à porta. Ninguém atendera. Deixei Myles encostado na parede e tentei arrombar a entrada e pronto. A tranca de madeira cedera depois de umas quatro fortes investidas.

O lugar tinha apenas um cômodo. Parecia o lar de um caçador ou lenhador solitário. Entramos e Myles deitou-se na cama. Enquanto eu fechava a porta novamente com um cabo de vassoura como tranca, ele me perguntara:

- Por que me ajuda, se momentos antes nós lhe ameaçamos a vida?

- Nem eu sei. Hoje só sigo o que me der na telha. Se sobrevivesse esta noite iria caçar vocês, talvez.

- E enfrentaria a nós três?

- Você estava fora de combate mesmo quando nos encontramos no início. Os outros tiveram a vantagem da surpresa, mas não me subestime, rapaz. Como comerciante em Dublin eu também treinei espada com meu pai. E não sou burro. Faria mais ou menos como vocês e os emboscaria em algum lugar.

- Mas você não tem medo de morrer?

- O que me segurava neste mundo se foi dias atrás. - respondi, com pesar. Quando terminei de trancar a porta e ajeitar um canto na parede, me cobri com outro cobertor que estava guardado e fiquei de guarda. A noite já se aproxima do fim.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Capítulo 1, parte 3: O Cavaleiro da Morte: Perseguidos

Sozinho na floresta, ainda tentei me esquentar mais perto da fogueira. Ao longe o som do vento parecia o gemido lamuriante de almas condenadas. Sons de cavalos também são ouvidos. Para evitar mais problemas, apaguei as chamas com areia e me escondi na árvore, de espada em punho.


Por sorte, ou azar, não sei, o misterioso cavaleiro seguiu reto em sua jornada e aparentemente não notou minha presença ou sequer dera importância. O que sei é que o som da cavalgada distanciou-se, indo ao norte pela estrada. Imagino se seriam soldados atrás daqueles bandidos, ainda os caçando. Sabendo que não poderia ficar seguro ali sem congelar, resolvi seguir meu caminho.


Caminhando pela estrada, pude ouvir novamente o cavalgar do cavalo misterioso, mas desta vez não vinha da estrada, e sim de dentro do bosque. Junto com ele, também ouvia gritos de socorro e desespero e tais vozes com certeza eram dos bandidos.


“Parece que eles estão sendo caçados mesmo”
– pensei. Sorri levemente, agradecendo aos céus por ver que há certa justiça no mundo ainda. Continuei meu caminho.


Minutos depois, ouço movimentos no bosque e saco minha espada, tentando ver quem se aproxima. Um vulto estranho, completamente sujo de sangue, surge na minha frente, desesperado. É um dos bandidos que me assaltou. Pelo cobertor que o cobre, noto que é o rapaz ferido, já muito fraco e cansado.


- Por favor, me ajude!! E-ele está atrás de mim!! Matou meus colegas! E agora clama pelo meu nome! Ele vai me matar!


- E por que deveria? Se dependesse de vocês eu estaria morto! – retruquei.


- Estávamos desesperados! O-o assalto não correu bem! Os mercadores estavam muito bem escoltados! E então ele apareceu! Nós corremos quando vimos ele gritar pelo nome de Shane e a cavalgar atrás de nós.


- Mas quem é esse cavaleiro que está caçando vocês?


- O cavaleiro sem cabeça! Dullahan!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Cap. 1, parte 2: O cavaleiro da morte: noite longa


Quieto, esperando o sono chegar para tornar a noite menos longa, fitei por vários minutos a chama trêmula da fogueira acesa. Sim, eu sabia que era me arriscar ainda mais, mas o frio tornara-se insuportável, mesmo com meu cobertor. O vento gélido da noite de outono castigava meu rosto.

“Num frio desses duvido que apareça alguém por aqui”.– pensei.

Ledo engano.

Apesar de alerta, logo meus olhos foram ficando mais pesados, o que me baixou a guarda e os reflexos. Não notei a presença de três saqueadores que fugiam de uma tentativa frustrada de saque a uma caravana. A fogueira era como um ponto de luz nas mais profundas trevas. Eles vieram diretamente a mim ao avistarem-na de longe.

Em passos silenciosos, os três bandidos cercaram a área, protegidos pela escuridão não alcançada pela luz da chama. Mal meus olhos fecharam-se e fui despertado pelos movimentos bruscos deles, que chegaram rapidamente em cima de mim, com suas espadas prontas para me matar.

- Pode parar aí, infeliz! Passa apenas as moedas e o cobertor! Senão, a gente te mata aqui mesmo! – ameaçou o líder.

Eles vestiam muitas roupas de couro e pela luz pude ver que um estava ferido, sangrando bastante no braço direito. Apesar do frio, este suava e visivelmente se mantinha de pé com dificuldade. Sem saída, entreguei meu saco de moedas e o cobertor, mas não sem antes esconder minha espada embaixo de uma raiz, sutilmente.


- Aqui estão. – respondi, ao entregar o que ordenaram, torcendo para que não notassem a espada escondida.


Felizmente a pressa deles se mostrou minha aliada. Rapidamente eles deixaram o local, cobrindo o parceiro ferido com o cobertor.

Não os culpo, talvez no lugar deles fizesse o mesmo, no desespero de ajudar o colega. Mas agora tenho um grave problema: o frio.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Cap. 1, parte 1: O cavaleiro da morte: a dor por Kathleen


Pela tarde daquele dia de outono de 1321, eu seguia sozinho em direção a Londres. Eu sei que é uma viagem muito longa, quase 300 milhas, mas não tenho pressa. Minha razão de viver está enterrada no mausoléu dos MacDonovan, junto com outros ancestrais meus.

************

Meu nome é Ryan MacDonovan. Até duas semanas atrás eu era um comerciante de Dublin, pertencente a uma família com uma boa quantidade de riquezas, mas isso de nada ajudou a salvar minha amada da tuberculose. Após anos sem podermos viver devidamente como marido e mulher, minha amada Kathleen me deixou para sempre.

Amargurado, não tive mais ânimo para retomar os negócios da família. Meus irmãos ficaram preocupados comigo, com razão, mas nada podiam fazer para aplacar minha dor. Quisera eu ter ido com ela, mesmo sabendo que, no fim, a morte apenas aliviou seu sofrimento de anos pela maldita doença.

Dias após a carpideira terminar seu lamento diante do túmulo de Kathleen, parti de minha cidade natal em busca de uma nova vida, um novo sentido para seguir em frente. Apesar de não gostarem muito da idéia de eu seguir sozinho pela estrada perigosa, meus irmãos Brian e Douglas não me impediram. Afinal, era isso ou me veriam definhar devagar e agonizante dia após dia, em profunda tristeza.

************

Pois bem, andando pela estrada, a noite já se aproximava. Nessa época o tempo de luz solar é bem mais curto que as trevas noturnas, por isso devo tomar cuidado. Bandidos rondam a estrada. Assim, ao encontrar uma grande árvore um pouco afastada da estrada, armo meu acampamento: uma pequena fogueira para me proteger da gélida noite, um bom cobertor de couro, uma ração para viagem e um pouco de água. Por entre as grandes raízes do carvalho me aconcheguei e esperei a noite passar.